
Na verdade, trabalhar em restaurantes ou apanhar fruta não era propriamente a nossa profissão e rapidamente tornamo-nos amigos passando a ser convidados para refeições e serões no seio da família, constituída pelo casal e 4 filhos.
Nunca comi pêssegos tão bons como em Ville mur sur Tarne. Depois de acabada a apanha dos mesmos, fomos fazer a das maças continuando nós e um chileno, o Wagner, do grupo de estrangeiros.
Os D Amou tinham outra propriedade arrendada a um casal de italianos, os Rinna, com um pequeno castelo que só metade era ocupada pela família. Nós com o Wagner fomos para a outra parte, totalmente independente. Ainda estou a vê-lo à minha frente! Uma sala grande comum com lareira, e uma cozinha. Num canto arrancava umas escadarias em semi-circulo que dava para 3 quartos e casa de banho. Todos os quartos tinham uma lareira a ocupar uma das paredes.
Fui logo apanhar flores no campo que se espairava à frente para fazer as jarras, pus na mesa rectangular e comprida um cesto com frutas que o Vabenne tinha comprado no mini mercado, abri as janelas para a arejar. Havia lençois, toalhas, colchas, sofás, cadeiras, utensílios de cozinha, enfim tudo para, depois de dar o meu jeito, se tornar num "lar doce lar". Como meio de transporte tinhamos o nosso 2 cavalos, o "Pampas" e emprestaram-nos bicicletas.
Recebemos os Rinna que nos vieram dar as boas vindas e colocarem-se à disposição e eu senti, sentada tão feliz num sofá, que ira iniciar as minhas funções de dona de casa de uma maneira sumptuosa, para quem andava de mochila e a dormir, confinada a um quarto!
Que tempos inesquecíveis que passamos aqui. Mesmo depois de terminado o trabalho dos D Amou, fomos convidados por outros agricultores amigos para outros trabalhos, mas continuamos a habitar o castelo.
Durante a semana saiamos cedo e de bicicleta iamos os três para os trabalhos agrícolas e vinhamos almoçar a casa sempre com o tempo contado. Regressávamos por volta das 5,00h. Envergava as saias compridas, punha um chapeu de abas largas e dava caminhadas que me enchiam de paz, a observar os pássaros, as plantas e s flores campestres. Por vezes ia até aos Rinna ver a fazer massa fresca ou a colher os ovos ou a passar a revista à horta que tinham, comendo pelo percurso um belo tomate ou mastigando umas ervas aromáticas!
Depois de um vigoroso banho fazia o jantar para os 3 e terminado o mesmo, ficavamos na cavaqueira, sempre com velas acessas e fumando os nossos cigarros Gitannes!!!
Eu e o Vabenne encontravamo-nos lá devido a uma revolução que tomava contornos políticos direccionado para o comunismo e o Wagner era Secretário de Estado da Agricultura do Allende, tinha sido preso na altura do Pinochet e tinha fugido com a ajuda da Igreja Católica. Era um socialista ferrenho. Fizemos um pacto: não falar de política.
Por hoje termino aqui e juro que o próximo capítulo será o final desta atribulada mas maravilhosa lua de mel!