Tenho que acabar este capítulo da minha vida pois senão é uma vergonha! Começei a escrever ainda o ano passado e em meados de Maio ainda não terminei. Podia quase fazer um blog só com esta lua de mel, pois os episódios foram tantas, as sitações a que me expus tão variadas as emoções tão fortes que teria tema...!
Se conseguir claro, hoje termino pois vou resumir somente às funções que exerci, e não aos momentos e às emoções que os rodearam! Há alturas, contudo, que o coração fala mais alto!
Depois de trabalhar dos D Amou, fui apanhar cebolas. Trabalho muito duro fisicamente pois apanhava a hora do sol a pique, com um enorme campo à minha frente e sempre de cócoras. Era eu e 11 marroquinos. Faziamos uma pausa para fumar o nosso cigarrito e eles espantados com o trabalho rude só me diziam: vá para a nossa terra que nós, sendo pobres, não deixamos as nossas mulheres trabalhar assim. O único momento discontraido era quando tinhamos que limpar as cebolas: iamos para o armazem onde elas eram guardadas e, no fresco e sentados numa pilha enorme, tiravamos as cascas velhas às ditas. Dava para horas de paleio e troca de modos de vida!
Depois fui fazer as vindimas e o grupo era engraçado e alegre: tudo cantava e contava anedotas. Comi uvas até que me fartei. Juntavamo-nos todos ao almoço debaixo de um alpendre e eu só chegava a casa (castelo) depois das 5.00 na minha bicicleta. Ia feliz e contente por aqueles campos pois regressava ao lar onde tinha o Vabenne à minha espera cheio de saudades!
Eu não sabia o que era machismo naquela altura e nem me interessava: enquanto o Vabenne o Wagner, depois de um banho reparador ( eles tinham outros trabalhos agricolas com o D Amou) sentavam-se cá fora a tomar um aperitvo eu preparava o jantar ou passava a ferro feliz que nem a carochinha da história...!
Os serões eram passados na cavaqueira, mas deitavamo-nos cedo pois no outro dia madrugavamos.
Depois juntamo-nos os três na apanha da alface e encaixotamento das mesmas para o mercado abastecedor. Aí aprendi que se compra com os olhos e por isso fomos "industrializados" para colocar as melhores e mais viçosas por cima!
Estavamos em Outubro/Novembro e o frio era muito. Deixei várias vezes de sentir as mãos porque as alfaces estavam molhadas e tinha que bater com as mãos nas costas com muita força para elas "acordarem". Cruzavamo-las à frente e batiamos nas omoplatas!!! Começavamos a tirar a roupa(era às camadas) só para o fim da manhã. O nosso chefe e patrão aparecia logo ao início da jornada de calções e manga curta. Julgo que beberia aguardente não?!!!.
Depois fui convidada para ser baby sister a tempo inteiro da filhota de um empresário de uma fábrica. Começava a subir na carreira.
Aí surgiu uma convocatória para o Vabenne regressar a Portugal senão seria considerado desertor. Imagine-se Portugal em 75 em que a tropa era uma rebaldaria e todos eram dispensados. Passamos noites a ponderar o assunto e o Vabenne decidiu que era melhor voltar do que ter que passar a fronteira a "salto" sempre que quizessemos vir a Portugal.
E regressamos! Partimos duma madrugada no nosso 2 cavalos, arriscando a atravesar os Pirineus cheios de neve, num carro velho e sem correntes. Ao abrirmos a porta e estando o Wagner levantado para se despedir, estava afixada na mesma uma fotografia do Pinochet dizendo: procura-se vivo o morto. A nossa promessa tinha sido cumprida!!!
Foi uma lua de mel que nos uniu muito no sacrifício, no companheirismo na amizade que perdurou e perdura!
3 comentários:
Um começo de vida cheio de peripécias e de aventuras, mas que ficaram gravadas para sempre. Gostei muito de ler este relato!
É uma bênção ter uma vida tão rica. E a mãe Becas merece. Sempre com um olhinho no lado positivo da vida que tão bem a caracteriza.
Adoro-a*
Tão bom o que ressalvo; o companheirismo, a amizade entre o casal, conheço essa parte ao de leve, pelo amor que uniu os meus pais, o pai era doce, poeta, a mãe mais (a mãe ainda vive, fez 78 anos dia 23 deste mês) mas viveram um lindo amor, coisa que eu não conheci, mesmo casando por duas vezes...
Sei como é, pois o pai dos meus filhos apanhava alfaces e couves de madrugada no pico do Inverno na África do sul que é um gelo que nem sei...ele dizia que nem se sentiam os dedos as mãos.
Enfim, lindo recordar que serviu para manter o casamento na santa união que ele deve ser.
Um abraço apertadinho da laura
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