Não sei se por defeito de profissão - secretariado -, se por ter nascido numa terra onde tudo era possível - Angola -, por ter viajado muito como freelancer - aberta ao Mundo e para o Mundo -, tenho facilidade de comunicar e criar laços com as pessoas.
Assim tenho conhecido gente muito interessante e enriquecedora. Mesmo aqueles que a sociedade rotula de "malucos", "indigentes", "pobres de espírito".
O mais recente, o Luís, surgiu de um encontro no café ao lado da cliníca onde trabalho. Um homem de 47 anos, umas das figuras ditas "típicas" de terras pequenas, conhecido pelo "Luís o adientado mental".
Tem o curso de engenharia e de matemática, tirados no Canadá e passados uns tempos e ainda rapaz novo, resolveu regressar à sua terra.
Não lhe deram equivalência a nenhum dos cursos que obteve com notas muito superiores à média. Viu-se confrontado com anos perdidos da sua vida e sonhos desfeitos. Não aguentou e os "fusíveis" fizeram curto-circuito.
Relata-me formulas matemáticas, questiona-me sobre teoremas, coloca-me questões existênciais para resolver ou conta-me episódios da sua vida.
Sempre que estou na cliníca ou no café, faz questão de dizer:
- Boa tarde menina bonita.
- Como está?
- Dá-me um cigarro?
- Vou-lhe pôr um problema para ficar a pensar nele.
Rapidamente parte mas no próximo encontro pergunta-me:
- Já sabe a solução? Não? Então deixo-lhe outro.
E lá parte novamente com o seu passo rápido e cabeça baixa.
Na verdade deixa-me mesmo a pensar pois as questõs que me coloca é de uma pessoa instruída, que pensa na vida mas que por vezes, é preciso decifrar, descodificar devido a uma mente alterada. E quanta gente ri-se e foge dele pois é e será sempre o "Luís o adientado mental"!
Se o Luís tivesse a noção do quanto tenho aprendido: mais não seja de que "na vida nada se perde, tudo se transforma"!!!