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sábado, 11 de junho de 2011

UM MENINO-HOMEM RUI!

Conheci-o por um acaso. Na pastelaria onde ia sempre tomar o meu café e sentada na esplanada, via-o na sua figura miúda, com a farda da Câmara, com o seu carrinho verde e várias vassouras e pás, apanhando papeis, folhas das árvores, restos de detritos e beatas de cigarros.

Comecei a dar-lhe os bons dias, e através dos seus óculos de lentes, gargalo de garrafa, respondia-me com um sorriso tão contente que dava para notar aqueles olhos sorriem. Soube, mais tarde, que no seu longo perímetro de trabalho, eu era a única que lhe desejava um "bom dia", apesar de passar por centenas de pessoas, na maioria diariamente.

Começou por parar naquele local (onde eu ia todos os dias), para beber da garrafa que trazia, o seu golo de água e darmos dois dedos de conversa: ele timidamente fazia-me perguntas e eu, mais afoita tentava saber coisas concretas da sua vida. Demorava no máximo 5 minutos e despedia-se com um pedido de desculpas mas, "sabe minha sra. a Câmara está a pagar-me"!

Nunca se queixou da sua vida nem nunca me contou a sua história. Soube-a por um acaso.

Um dia, estava a sair da clínica onde trabalho pois uma amiga ia-me buscar, e vi o Rui, na sua bicicleta. Parou com uns travões manhosos e desde o farolim ao para lamas tudo tremeu devido à rapidez da travagem. Os seus olhos ainda sorriram mais por me ver longe do sítio onde nos encontrávamos e por achar, concerteza, ser o destino o fazedor daquele encontro!

Conversamos um pouco mais pois a minha amiga chegou e à despedida disse-me: que bom já sei mais um sitio onde posso, se possível, encontrar a sra!

No carro a minha amiga perguntou-me se eu sabia com quem estava a falar. Contei-lhe como tínhamos começado as nossas curtas conversas e que se chamava Rui. Mais nada.

Aí soube um pouco da sua história. Era órfão e viveu na Casa dos Rapazes. Aos 21 anos teve que sair e fazer-se à vida. Encontrou um emprego de limpador num circo em Ponte de Lima. Não lhe pagavam nada do combinado e nem podia sair. Viveu uns anos sequestrado em condições miseráveis e foi um amigo dele, surdo-mudo, também da Casa dos Rapazes que o descobriu denunciando por escrito o caso à Polícia de Viana que o foi buscar. O caso tinha sido notícia no canal da TVI.

Pela sua maneira de ser, via-se que não era um menino-homem desgostoso com a vida mas feliz com a oportunidade que a mesma lhe tinha proporcionado.

Ainda há pessoas destas, graças a Deus!!!

2 comentários:

Lina Arroja (GJ) disse...

Gostei de a ler. Beijo.

Bacouca disse...

GJ
Também eu a si. Estivemos ausentes mas a ver se agora recomeçamos.
Um beijo