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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O MEU CASAMENTO

Ao iniciar os preparativos para o casamento da minha filha sou forçosamente levada a pensar, com um sorriso, no meu casamento.

Foi a 14 de Junho de 1975, ano muito conturbado. O Vabenne vivia em Lisboa, onde estudava arquitectura e eu no Algarve, depois de regressar de Luanda, com a Mãe e irmãs. O Pai, que nunca acreditou que teria que deixar Angola e sendo administrador de uma grande empresa de exportação de café, vinha de 3 em 3 meses a Portugal.

Como eu não queria ficar cá "fechada" dado os contornos políticos que se estavam a prever e como o Vabenne não conseguia ter aulas com as "rga",pensamos em sair do país. Resolvemos escolher França por ser mais vantajoso para o Vabenne (apesar de não conhecermos lá ninguém), do que o Brasil que eu tinha preferido e onde o Pai tinha contactos.

Mas para sairmos tinhamos que casar. Irmos os dois viver juntos julgo que seria um desgosto para ambas as famílias! Mais uma diferença em apenas 35 anos!!!

O casamento seria em Lisboa. Escolhemos a capelinha dos ingleses em Cascais mas a mesma foi-nos desaconselhada pois seriamos insultados de "facistas" por grupelhos do MRPP, PC,etc,etc,etc, tendo já havido confrontos noutras situações. Portanto Sé de Cascais. Nem a igreja podemos escolher...

O Vabenne ficou de escolher o local para jantar: qual aperitivos, 2 pratos, buffet de isto e daquilo. Um jantar simples só com a família mais próxima. Qual lista de casamento ou "envelopes".

Precisávamos de dinheiro para enfrentar os 1ºs tempos em Toulouse e de uma tenda de campismo, 2 boas mochilas e apetrechos para cozinhar. Fotógrafo? Dos presentes havia quem tivesse máquina!

Nos arredores de Cascais havia 2 restaurantes de 2 irmãos muito parecidos fisicamente, com nomes muito semelhantes e ambos bons: o Broa de Trigo e o Pão de Trigo (se a memória não me falha). Provavelmente com o nervosismo, a tensão, ambos foram contactados, visitados e escolhido o jantar, sem o Vabenne se aperceber. Concluindo: havia 2 restaurantes a aguardar o mesmo casamento!

A noiva teve que esperar pelo noivo, a missa foi celebrada pelo P. Roque Cabral, grande amigo do Pai desde o Colégio das Caldinhas e, no final uns dirigem-se para o Broa de Trigo e outros para o Pão de Trigo! Espera que espera,telefonemas para uns, telefonemas para outros e finalmente...o encontro de não mais de que uma dúzia de pessoas!!!(irrita-me este buzinar dos carros aqui no norte quando seguem em fila para o local mas são capazes de ter razão!).

O Pai emprestou-nos,para a lua de mel, um Fiat Coupé que tinha mandado vir de Itália de importação que já não seguiu para Angola.

O Vabenne tinha em segredo o sítio onde iríamos dormir essa noite. Fomos a Carcavelos trocar de roupa (apesar do meu vestido ser curto era muito bonito e do Vabenne levava um casaco emprestado de um irmão) e buscar a mala.

Já seria tarde, talvez 23.00h ( quais 4, 5 ou 6 da manhã) e dirigiamo-nos em direcção a Colares,
quando o Vabenne vê um homenzinho na estrada a pedir boleia e resolve dar-lhe! Muitas vezes comentamos o perigo que corremos e como coubemos os 3 no coupé!!!

Voltas, curvas, subidas e quando o homem ficou no sítio que queria o Vabenne apercebesse que estava perdido! No meio do nada, escuro que nem breu, sem placas ou sinalizações a indicar Colares! Telemóvel? GPS? Mais uma diferença de 35 anos!!!

Enfim lá apareceu uma luzinha e assim chegamos ao destino. Eram 4.00 da manhã. Tudo fechado. Toca a bater, a carregar na campainha. Aparece o dono e qual o espanto quando nos vê: esperou, esperou e como não aparecemos alugou o nosso quarto.

Devo dizer que é uma pousada com meia dúzia de quartos, o mais familiar possível. Solução: dormir num anexo e no dia seguinte passar para um quarto. Eu ria-me que nem uma tola e só me lembrava: sou a Cinderela que se atrasou!

No dia seguinte lá nos mudamos e estivemos mais 2 dias. Voltamos lá uns anos depois e continuava muito agradável: Pousada do Leão!

Poderia ter havido mais peripécias num casamento? Poder podia...mas estas chegaram para as recordar para sempre!!!

E a lua de mel???

4 comentários:

Dreamer disse...

Qualquer dia faço um post com o dia do meu casamento...

Lina Arroja (GJ) disse...

Em 75 tudo era possivel, tão jovens e cheios de espírito de aventura...
Eu casei em 76 e voei de Lisboa para o Porto no último avião que havia. À chegada ao Porto, apareceu um fulano a propor um táxi, o meu Jóia, também devia ser parecido com o seu Vabenne, aceitou logo a proposta, o homem não tinha licença, fazia parte dos "retornados" que faziam pela vida, e lá fomos nós para uma carrinha estranhissima. Durante o trajecto até ao centro do Porto fui cheia de medo a pensar que ficariamos pelo caminho e que o homem nos iria assaltar. Felizmente era apenas um homem a tentar ganhar dinheiro e a sobreviver naquela época. Nada aconteceu,apenas a adrenalina da aventura.:D

Bacouca disse...

Dreamer,
Já estou como a GJ com o Chonney! Fica desde já o desafio!
Beijo

Bacouca disse...

GJ,
Foram anos conturbados, mas na verdade a idade ajuda muito neste espírito de aventura!
Tivemos que simplificar tudo o mais possível, quase que passar "despercebidos"! Até com os simples convites e anúncio do casamento tive problemas por causa do nome de...facista!
Ou se era facista ou se era comunista e eu com a agravante de ter vindo de Luanda (retornada, colonialista, exploradora, racista...).
Ainda bem que o meu "patricio" a não enganou. Mas era a época do medo, da desconfiança.
Caraças, por isso é que "cavamos"!!!
Beijo